Nos maravilhosos anos 80, comecei a frequentar festas e bebericar um pouco. O vinho ainda não exercia sobre mim um poder absoluto, tenho vagas lembranças de garrafas azuis de vinhos brancos adocicados de proveniência supostamente alemã e vinhos brasileiros brancos ácidos e quase sem cor servidos ultra gelados em casamentos.
Nos anos 90 me transferi para a Itália e dei início à minha saga dos vinhos. Aprendi a degustar, apreciar e valorizar vinhos feitos com uvas com perfeita maturação, com técnicas afinadas, enfim os bons vinhos do velho mundo. Nas minhas viagens de férias ao Brasil, experimentava aqui e ali alguns outros vinhos nacionais, sem grande entusiasmo. Achava os tintos bem verdes e ácidos.
O tempo foi passando e já nos anos 2000 meus amigos sommeliers da ABS do Rio me apresentaram aos espumantes nacionais. Ali bateu a primeira paixão, um autêntico amor à primeira bicada: o Cave Geisse Brut Nature! Essa experiência acendeu uma luz e me fez ansiar por mais conhecimentos que finalmente realizei neste ano.
Numa breve viagem a Bento Gonçalves (RS) um novo mundo, uma nova era se revelou à mim! Se Pedro Alvares Cabral se emocionou ao avistar a costa brasileira, gosto de imaginar que a minha emoção foi no mínimo semelhante. O Vale dos Vinhedos sabe enfeitiçar seus visitantes: a paisagem dos vinhedos entrelaçados com a flora nativa local é algo único. Saber apreciar uma palmeira que desponta entre as vinhas é privilégio de quem vive fora do Brasil, cá estou eu, com olhares europeus sobre esse admirável novo vinho nacional (com licença de Aldous Huxley).
Uma das coisas mais surpreendentes é o alto nível de preparo para o Enoturismo! As vinícolas possuem um roteiro de visitação e pessoal dedicado às visitas e degustação no local. As maiores, digamos acima de um milhão de garrafas, além de garantir uma qualidade constante dos produtos, oferecem uma experiência amplificada de degustação proporcionando salas dedicadas onde é possível comprar a garrafa e saboreá-la no próprio local, algumas delas até mesmo equipadas com “food-trucks” com interessantes opções gastronômicas.
Respira-se “ar italiano” por toda volta, no nome das ruas, no sobrenome das pessoas, no menu dos restaurantes. O primeiro produtor visitado, Flavio Pizzato, é a essência dessa influência italiana. Não só no aspecto mas no estilo de seus vinhos, ele transmite essa vibração: espumantes finíssimos com destaque para o Vertigo Nature sur lies que ilumina o paladar com excelente acidez e salinidade sustentados por uma efervescência sutil e persistente. Quase não acreditei quando experimentei os Merlot ! Elegantes, frutados com estágio em madeira que não oculta o caráter do vinho e taninos aveludados. Palmas para o Merlot de Merlots 2015 e o DNA99 2012!
A segunda vinícola visitada, pequenina mas não menos interessante, foi Barcarola, outra família com ascendência italiana da região do Trentino que trouxe as castas típicas daquela região: Lagrein, Marzemino e Teroldego. A versão licorosa do corte tinto evoca as notas de um Recioto da Valpolicella.
A dimensão da Salton é impressionante, mas proporcionalmente impressiona a organização impecável da toda a linha de produção. Não imaginava que no Brasil houvessem empresas do setor que observasse um rígido padrão de qualidade, higiene e alta qualificação dos funcionários. A enóloga Sandi nos recebeu para uma visita que deixou uma lembrança indelével. O passeio dentro da “cave” dos espumantes é uma experiência mística que culminou com a degustação do Evidence Brut, um espumante de personalidade com aromas frutados, florais e clássico pão torrado. De profundidade no paladar e fina persistência, esse fez meu coração bater forte. Toda a linha da Salton é impecável, os vinhos são bem feitos ainda que alguns concebidos para um deleite imediato.
As visitas continuaram de volta ao coração do Vale dos Vinhedos. A mais renomada Miolo nos aguardava para conferirmos a continuidade da qualidade da produção. Quem nunca provou o famoso Lote 43? Acredito tenham atingido com ele o primeiro patamar dos vinhos tintos finos brasileiros de que se pode ter orgulho. A vinícola dispõe de um parque e jardim super agradáveis onde transcorrer o dia com a família inteira.
A Miolo investiu também em novas zonas de produção desde o Vale do São Francisco que na Campanha Gaúcha. Pessoalmente creio que apesar do preço mais acessível os vinhos produzidos na zona da Bahia não concorrem em fineza com os vinhos originários do sul do pais. Os vinhos da Campanha Gaúcha nasceram com o proposito de serem apreciados sem complicações e cumprem bem essa missão. Com a aquisição da Almaden o Grupo Miolo se tornou um verdadeiro colosso da produção vinícola brasileira, podemos ter orgulho de ver um grupo bem sucedido com a bandeira nacional.
Na próxima parte da viagem mais outras dicas para deixarem todos com água na boca e mala na mão!
Salute!
Sou um apaixonado tbm pr vinho apreendi a degustar uns excelentes vinhos na serra do Sudeste, especificamente em Encruzilhada do Sul, vinhos da carraro e outros produzidos naquele município, todos de uma ótima qualidade!!!
Parabéns pela explanação, quem conhece o sul de Brasil sabe que tudo é fantástico.
Parabéns pelo seu blog. É de leitura agradável e informativo. Visite o meu Barris de Carvalho cultura relacionada ao vinho. Um abraço.
Cada visita a Serra Gaúcha ou a outras regiões produtoras de vinho no sul do Brasil, nos mostra a grande evolução do vinho nacional, mas esta evolução está presente também em outras regiões e hoje, quando se fala de vinho nacional, é importante destacar os vinhos mineiros, os nordestinos e outros de qualidade tão boa quanto a dos excelentes vinhos do sul.
Verdade, Roberto! O Brasil vem se destacando no mundo do vinho em várias regiões ! Sorte a nossa ☺️??