Tão comum quanto julgar um livro pela capa é julgar um vinho pela sua embalagem. Não há dúvidas de que as pessoas são atraídas por um rótulo bonito, pela cor da bebida e até mesmo pelo formato da garrafa. Essas características existem não apenas por um motivo estético, mas por preocupações mais profundas e históricas. Muitos produtores criam diferentes formatos para promover seus produtos, está claro, mas questões como transporte, armazenagem, envelhecimento e serviço são determinantes na escolha do formato de uma garrafa.
Características como a cor do vidro e o tamanho da embalagem passam despercebidas por muitos consumidores, mas são muito bem pensadas e elaboradas pelos produtores vinícolas. Vinhos que vão envelhecer por longos períodos, por exemplo, precisam de uma garrafa com vidro escuro para serem protegidos da luz. Já o vinho rosé precisa de um vidro incolor para evidenciar o tom vivaz do líquido. Muitos vinhos de sobremesa são envasados em garrafas de 375 ml ou 500 ml, porque são bebidas mais acoólicas e, portanto, consumidas em menor quantidade.
O formato de uma garrafa pode dizer muito sobre o seu conteúdo. O ombro da garrafa, aquela curva que separa o pescoço e o bojo, tem sua importância na hora de servir o vinho: ele ajuda a impedir que os sedimentos que se acumulam no fundo das garrafas, recorrentes em vinhos envelhecidos, escoem para a taça. Basicamente, as garrafas são divididas em cinco partes: gargalo, pescoço, ombro, bojo e base.
Por causa de questões como essa dos resíduos do vinho, foram criadas garrafas muito famosas que são usadas até os dias atuais. As garrafas de vinhos de Bordeaux e de Borgonha nasceram – como já denunciam os nomes – nas principais regiões vinícolas da França e são usadas característicamente para determinadas castas de uvas. Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc são tradicionalmente embaladas em garrafas no formato bordalês, enquanto Pinot Noir e Chardonnay são embaladas ao estilo Borgonha. Outros formatos populares são Champagne, Renana, Vinho do Porto, Bocksbeutel e Chianti.
Bordeaux, rígida, é uma garrafa tradicional para vinhos que envelhecem muito tempo em adegas e que acabam formando e acumulando sedimentos. Os ombros levantados impedem esses sedimentos de irem para a taça. O formato bordalês, que mantém o gargalo bem reto, vem se tornando comum para Tempranillo e Chianti, que estão abandonando seus velhos desenhos para se adaptar a um manuseio mais fácil. Da estocagem ao transporte, este é o formato mais prático para o mercado global.
Borgonha, largamente utilizado por produtores de brancos e tintos, é oposta a Bordeaux: como não costuma haver formação de sedimentos, os ombros da garrafa são caídos. Ela é mais alongada, com contornos suaves e a parte interior mais bojuda. É útil para estocar e envelhecer nas caves, uma vez que as garrafas são tradicionalmente dispostas umas invertidas às outras.
Champagne é reconhecida de longe por seu pescoço longo, ombros caídos e curvas macias. Nasceu na França, mas é obrigatória para todos os espumantes produzidos mundialmente. Tem um vidro mais grosso e base côncava, para suportar a alta pressão interna provocada pelo dióxido de carbono. A rolha cilíndrica, a característica mais distinta de Champagnes, toma a forma de um cogumelo ao ser empurrada sob pressão para dentro do gargalo e é presa por uma armação de arame, que assegura sua estabilidade.
Renana, também conhecida como Alsácia, tem ombros caídos e um formato alto e esguio, tradicional entre alemãs, austríacos e suíços. Na Alsácia, uma lei determina que os vinhos tintos e brancos da região devem ser embalados com essa garrafa. É também usada por produtores de vinho verde em Portugal e por produtores de Riesling em outros países. O nome renana vem do rio Reno, que atravessa a Alemanha, a Áustria e a Suíça.
Vinho do Porto é uma garrafa robusta, de vidro grosso e escuro, para que a bebida possa envelhecer por décadas nas adegas. Os ombros quadrados e o pescoço volumoso ajudam a reter as borras. O tamanho é menor, característico a cada quinta, e tem um pescoço esticado para o caso de precisar quebrar o gargalo – uma solução para quando a rolha não pode mais ser retirada.
Bocksbeutel é um dos formatos mais peculiares. Também chamada de francônica, é uma garrafa redonda e ligeiramente achatada típica de Franken, na Alemanha. Daí o nome francônica. Além do uso alemão, é também popular entre produtores de vinhos, especialmente o verde, em Portugal.
Chianti também tem um formato curioso. É emblemático da Toscana, com seus vinhos raros e locais. As garrafas são revestidas de uma palha, chamada de fiaschi na Itália. Para alguns, essa palha faz a garrafa parecer com uma cebola. Vinhos chianti, no entanto, também têm sido embalados em garrafas com formatos mais retos, para facilitar o transporte e armazenagem.
Uma bebida tão complexa não poderia pedir embalagens mais simples. Essa diversidade de formatos e materiais apenas reflete a diversidade das questões envolvidas na elaboração de vinhos e servem como forma de interpretar o que está dentro dessas garrafas. Vinho é arte!
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Por Priscila Minussi
Goste muito e como estou aprendendo sobre vinho , este foi um bom aprendizado , obrigado .
um abraço
É uma explicação bem clara e rápida sobre o tema. Sem frescuras busca esclarecer sem complicar. Parabéns!
Muito boa explanação , matéria interessante , parabéns, continue nos fornecendo informações preciosas. Abraço.
Muito interessante, gostei das informações e tenho uma curiosidade sobre a base das garrafas de vinhos, algumas são retas, outras tem uma cavidade rasa e outras bem profundas, isso tem a ver com a qualidade do vinho? Abraço.
Olá Richard,
Segue a resposta da nossa palestrante e especialista Deise Novakoski à sua pergunta:
“Este assunto já deu pango para a manga, porém, é mais uma lenda do vinho.
Pequenos produtores podem não ter volume para investir em uma engarrafadora, que obrigatoriamente trabalha com garrafas de fundo concavo. Por isso são mais caras, custo que é compensado no volume.
Há uma segunda possibilidade, quando produtores se reúnem e compram um volume razoável de garrafas minimizando custos e alugam a engarrafadora e a seladora de um terceiro. Procedimento comum na Alemanha, Áustria e Loire.
Como se vê, da mesma maneira que não se consegue avaliar a qualidade do acarajé pelo formato da bunda da baiana.
Não dá para avaliar a qualidade de um vinho pelo formato do fundo da garrafa.
Beijinhos
Deise”
Ótima essa explicação, gostei muito. Foi muito didática Parabéns. ……
Explicação bem didática adorei
Interessante. muito didático. Quem é amante de vinhos, deve conhecer a embalagem.
Muito esclarecedora a matéria !gostei!
Eu amei a matéria e com certeza aprendi mais um pouquinho! Obrigada!
Eduardo, só faltou a garrafa do Jura, esqueci-me o nome!
Gostei muito da explicação sobre o formato das garrafas. Alias todo assunto referente ao vinho e sua confecção é encantador. Obrigada
Matéria extremamente elucidativa e de fácil assimilação. Nunca havia lido sobre o assunto. Parabéns.
Gostei da matéria, principalmente por que estou iniciando no mundo dos vinhos a pouco tempo.
Abraço a todos
Reginaldo Luiz
Ola Eduardo, gostei muito da matéria sobre o formato das garrafas. Parabéns!!!!! Suas matérias são sempre interessantes. Abraço
Ione
Bem legal a materia. Fico pensando se as guarrafas chianti não teriam esse formato e o uso da palha pois lá no inicio não eram envasados em pequenas anforas sem pedestal para ficar em pé