Nada como unir o útil ao agradável. Assim, durante uma viagem de negócios no Oriente, aproveitei para conhecer a feira de vinhos mais importante no Far East: a Hong Kong International Wine & Spirits Fair.
O mundo dos vinhos do outro lado do globo, até pouco tempo atrás, falava somente francês. Com muito esforço, os italianos começam a impor sua presença no mercado, mas estatisticamente ainda em grande desvantagem em relação aos vizinhos gauleses.
A minha curiosidade foi plenamente satisfeita quando me deparei com a Asian Wines Association, aliança de produtores asiáticos de vinho criada em 2013 graças a pessoas como Denis Gaston, um escritor de vinhos de mente aberta que percebeu potencial vinícolo sem preconceitos. Foi surpreendente encontrar e conversar com produtores indianos, tailandeses, japoneses e indonésios. A produção de vitis vinifera está disparando naqueles países e o resultado é digno e de impressionar.
Compartilho algumas notas breves sobre vinhos degustados:
Índia
O mercado indiano conta com aproximadamente 50 produtores. O consumo local favorece o uísque, que representa 92% das bebidas alcoólicas vendidas (é o maior consumo per capita de uísque do mundo!). A produção vinícola corresponde a um miserável 1%. As castas mais cultivadas são: Chenin Blanc, Sauvignon, Viognier, Shiraz, Cabernet Sauvignon, Nero d’Avola, Sangiovese, Malbec e Zinfandel.
Conheci o produtor Grover Zampa, que plantou as primeiras videiras em 1988 e teve a primeira vindima em 1992. Encontra-se perto de Mumbai e Bangalore, sobre colinas com 800m de altitude. Com projetos de expansão para o futuro, conta com a supervisão de Michel Rolland para sua linha de ponta. Alguns exemplos:
- Sauvignon 2017 de nariz clássico com notas vegetais e cítricas, folhas de tomate. Amarelo palha bem transparente. Prevalência de sensação vegetal na boca com correta acidez e salinidade.
- Viognier 2016 frutado com melão, aparente fermentação malolática que baixou drasticamente a acidez. A persistente nota de coco tostado sacrifica o fruto.
- Cabernet/Shiraz em uma combinação de notas herbáceas e frutadas. Bom frescor e vivacidade na boca.
Tailândia
Há somente seis produtores no país. A vinícola Granmonte se encontra a 150km acima de Bangkok e a 350m sobre o nível do mar, ao lado de uma reserva nacional. Eles contam com uma grande vantagem climática, ao contrário do resto do país, pois as chuvas são escassas e há grande excursão térmica no verão.
Experimentei o Chenin Blanc espumante com 18 meses de leveduras, com clássico nariz de nozes e mel, boa sensação salina na boca com final de mel. Mas a grande surpresa foi o Verdelho, repleto de fruta tropical, notas de carambola e pimenta branca. Na boca é quase um Sauvignon, ótimo frescor e corpo, apesar dos 14 graus.
O rosé Sakuna, à base de Shiraz, abre-se com dificuldade, mas em seguida confirma notas de groselha e romã. Seco e vertical, pode combinar com pratos ricos de especiarias.
O Heritage 2014, ano que na Europa foi um total desastre, trouxe um corte “tailandês” a base de 65% Cabernet, 32% Shiraz e 3% Viognier, de inspiração na Cotes du Rhone. Exuberante, com notas de frutas vermelhas e caramelo tostado. Potência no gosto, mas talvez lhe falte somente uma maior elegância no paladar.
Japão
No país, existem 12 produtores. A vinícola Tsuno Wines foi fundada em 1996 e hoje produz 240 mil garrafas. Destaque para o Chardonnay 2016 com notas típicas de abacaxi e nuance amarelo ouro. Boca generosa sem faltar acidez, que contrasta com madeira. Boa salinidade e persistência.
Muscat Bailey-A de vermelho rubi brilhante traz pétalas de rosa e morangos silvestres. Na boca, muito seco e equilibrado, comporta-se como um rosé.
Um vinho de difícil interpretação é o rosè de Campbell Early, uma vitis lambrusca. Notas de musgo, geleia de rosa e graxa de sapatos. Apesar de um alto resíduo de açúcar, a sensação final é seca.
Outro produtor japonês, o Chateau Mercian, é o segundo maior local e vem da parte central da ilha, com uma casta desconhecida: Koshu! Muito interessante, com notas cítricas e total coerência na boca, me recorda bastante a casta Gruner Veltliner. E o Chateau Mercian Chardonnay 2015, que traz uma sensação de tostado e frutas não maduras, bom equilíbrio na boca com justa acidez e salinidade.
Ainda no Japão, a Hokkaido Wines possui vinhas na zona mais fria do mundo, onde a neve chega a até dois metros de altura!
Um delicioso Gewurtztraminer, perfumado de jasmim e flores de limão, e o Hokkaido Rouge, à base de Zweigelt, são vinhos leves e muito agradáveis.
Bali (Indonésia)
Termino a experiência com o vinho de Bali da Hatten Wines:
Um rosé de Alphonse Lavalée, uma uva de mesa transformada em vinho. Simpático buquê floral, porém de acidez contida. E o Alexandria, que presumo ser uma espécie de moscatel devido ao nariz intensamente floral e alto resíduo de açúcar.
bom dia aonde no brasil consigo comprar vinhos asiáticos?
site??
abs
Olá, primeiramente, obrigado pela sua pergunta!
Infelizmente é difícil encontrar vinho asiáticos aqui no Brasil.
Dependendo da cidade onde mora, pode procurar em lojas especializadas, armazéns de vinho e boutiques.
Se morar no Rio de Janeiro, podemos aconselhar com maior precisão!
Abraços!
Onde, no Rio de Janeiro, posso encontrar alguns destes vinhos?
Olá Marcos! Infelizmente esses vinhos não são importados no Brasil. Só no mercado asiático e russo. Uma pena…
Mas pode se tornar um excelente motivo para viajar! ?
Adorei está resenha
Que bom que gostou !!