RIOJA em dois dias e 7 Bodegas

Definitivamente, não se pode dizer que se conhece a Rioja se não visitar algumas vinícolas e bodegas. Elas são a essência da região e reafirmam a sensação de viagem de volta ao tempo. Não é difícil encontrar bodegas com, no mínimo, um século de existência. Extremamente encantador!

Para fazer um tour pelas vinícolas, que dura entre uma hora e meia e duas horas, é necessário agendar com antecedência. Mas, caso não se deseje fazer o tour completo, é possível visitar apenas as tendas das vinícolas para comprar vinhos.

Como passaríamos apenas dois dias na região, optamos por conhecer as bodegas El Fabulista, Ysios, Baigorri, Marques de Riscal, Dinastia Vivanco, Valdelana e Lopes Heredia.

Oito degraus abaixo da terra:

Baigorri foi a nossa primeira parada da lista de bodegas. Ela tem uma estrutura de zinco e vidro, em forma de cubo, no topo de uma colina e possui oito níveis abaixo da terra. Lindíssima! Fizemos o tour completo que explica desde a colheita até o processo de elaboração do vinho. Ao final, desfrutamos de um menu de degustação harmonizado com vinho no restaurante da vinícola. Simplesmente delicioso! A culinária na Espanha é incrível! Depois, fomos à tenda e compramos algumas garrafas dos vinhos que mais gostamos. As marcas de vinhos da Bodega Baigorri são: Rosa Baigorri, Baigorri maceração carbônica, Barril fermentado Branco Baigorri, Foster Baigorri, Reserve Baigorri, Belus Baigorri, Grenache Baigorri e Garagem Baigorri.

 

 

Mais informações no site: http://www.bodegasbaigorri.com

A história de Don Rafael:

Após o tour na Baigorri, seguimos para Lopes Heredia na cidade de Haro, Rioja Alta. Fomos apenas para conhecer sua tenda que é em forma de decanter, super diferente. Fizemos tasting de vinhos e compramos algumas garrafas. Essa é uma bodega muito importante para a região. Tudo começou com um imigrante chileno filho de bascos, o Don Rafael, que viajou para a Espanha com quatorze anos a fim de completar seus estudos com os jesuítas. Seus familiares militavam na guerra civil, porém, no lado errado e, por isso, tiveram que se exilar na região da Borgonha. Foi lá que eles aprenderam as mais modernas técnicas de vinificação resumidas no modo de fermentação e envelhecimento em barricas de carvalho.

 

Mais informações no site: http://www.lopezdeheredia.com/

Quando a poeira abaixou, Lopes Heredia retornou a Rioja, onde fundou, em 1877, a R. Lopes de Heredia, gerida atualmente pelos seu netos, que seguem à risca sua cartilha. Os 170 hectares de R. Lopez de Heredia estão situados num terroir privilegiado cortado pelo rio Ebro, em solo argilo-calcário e protegido de ventos fortes do Atlântico pela Serra da Cantábria. Acreditando que o caráter de seus vinhos está no meticuloso cuidado de vinhedos antigos, com baixo rendimento, colheita de frutos no ápice de amadurecimento e com envelhecimento lento em carvalho – como é feito há 130 anos -, eles seguem na contramão da vinicultura moderna, que apela para vinhos extremamente frutados, estruturados, tânicos e alcoólicos. Um diferencial que com certeza conquista qualquer apreciador de vinhos.

A produção à moda antiga bordalesa é feita com fermentação em grandes barris de carvalho de várias origens – com mais de cem anos no seu interior -, com placas de tartarato aderidas às paredes, que abrigam primitivas leveduras necessárias à fermentação. Assim, não precisam de adição de fungos. Em seguida, o vinho é transferido para barris de carvalho americano com capacidade de 225 litros e passa, em média, 15 anos para microxigenar e estabilizar. O vinho não passa por filtração, é apenas trasfegado e clarificado com ovos frescos selecionados. No fim, o vinho, sem nunca ter tido contato com inox, é engarrafado e guardado nos 300m² da galeria, que está a onze metros de profundidade. Seus donos acreditam que essa crianza lenta em carvalho é que transfere para o vinho a personalidade e características típicas de R. Lopez de Heredia. Geram, assim, vinhos aromáticos e de sabores únicos, com inconfundível toque abaunilhado. Trata-se de um processo mais custoso que método tradicional, com uma produção de apenas 700.000 garrafas por ano. Impossível não se deixar cativar por esta prova de amor ao vinho!

A prensa do século passado:

Para finalizar o primeiro dia de viagem, fomos à bodega El Fabulista, ao lado do nosso hotel em Laguardia. Foi uma das experiências mais interessantes e surpreendentes que tivemos. Essa bodega elabora seus vinhos de forma tradicional. São 32.000 litros anualmente elaborados pisando na uva, como nos tempos antigos. Nós também vimos uma prensa que data de 1903 e uma máquina chamada despalilladora, que é usada para remover os talos das uvas. A cerca de sete metros de profundidade, encontramos três corredores paralelos que estão interligados. O primeiro deles é usado para a elaboração de vinho, o segundo é usado para o envelhecimento e o terceiro é usado para degustação de vinho tanto branco como tinto, jovem ou crianza.

O tour é extremamente interessante, pois é feito todo debaixo da terra, andando por túneis. A responsável pelo tour, senhora Mars, era muito divertida, tornando o momento ainda mais agradável. Os vinhos experimentados eram maravilhosos, o que acabou rendendo mais algumas garrafas para a nossa coleção…

 

Mais informações no site: http://www.bodegaelfabulista.com/

A obra de Calatrava:

Na manhã do segundo dia de viagem, visitamos a bodega Ysios que tem arquitetura conceitual baseada em três elementos: madeira, vidro e alumínio. Projetada por Santiago Calatrava, a cobertura é revestida de alumínio natural enquanto a fachada é coberta por folhas de cedro flexíveis, moldadas pelo arquiteto. A cobertura, em alumínio, é em formato sinuoso para acompanhar o movimento das montanhas ao fundo. Exuberante composição entre paisagem e arquitetura. Em frente à entrada principal, a lagoa é coberta com trencadis brancos, técnica de mosaico modernista especialmente usada por Gaudí.

 

 

O museu que sabe tudo:

Após Ysios, seguimos para a Dinastia Vivanco, onde se encontra o museu de vinho mais completo de toda a Europa. É uma obra prima! O museu relata a história do vinho desde os primórdios, explicando seu surgimento, os métodos de antigamente até os da atualidade. Ao final da visita, é possível degustar vinhos. Reserve um bom tempo para conhecer este lugar.

 

A Catedral do Marques:

A parada seguinte foi na bodega Marques de Riscal, uma das mais antigas de Rioja. Construída em 1858, ela segue a perspectiva histórica e rústica em sua La Catedral, como é chamada a cave no subsolo, com centenas de barris e garrafas envelhecidas. Mas em 2006, com uma proposta vanguardista – como queriam os herdeiros da bodega -, ela ganhou roupagem externa que se destaca em meio às casas em estilo colonial ao seu redor. O arquiteto canadense Frank O. Gehry, autor de outras obras no Museo Guggenheim de Bilbao, criou para a bodega o complexo Ciudade Del Vino com cobertura de titânio com desenhos e silhuetas em ondas. Pura homenagem ao mundo do vinho.

Foi devido a Don Camilo Hurtado de Amézaga, Marquês de Riscal, diplomata espanhol residente em Bordéus, que os primeiros enólogos franceses chegaram a Rioja, em 1858, com o objetivo de ensinar os produtores da região a fazer vinho com as técnicas utilizadas no Médoc. Dois anos depois, o Marquês de Riscal construiu a sua própria adega em Elciego, já sob as especificações bordalesas, que traziam como principal novidade a estadia prolongada dos vinhos em barricas de madeira. Mantendo-se fiel aos grandes vinhos clássicos de Rioja, ele está também em Rueda, região que ajudou a desenvolver, desde os anos 70.

Esta bodega é também um hotel maravilhoso e tem um restaurante famoso. Não perdemos tempo e reservamos um almoço lá. É uma mistura do antigo com o moderno realmente impressionante. No restaurante, tivemos mais uma experiência gastronômica maravilhosa: nos deliciamos com os cinco pratos servidos. Vêm todos em pequenas porções para que o cliente deguste diversos pratos. E, além do que é pedido, eles ainda trazem outras entradas. No final, já bastante satisfeitos, ofereceram-nos chá em um carrinho que carregava praticamente toda a plantação de ervas. Você escolhe o sabor, eles cortam a erva na hora e fazem o verdadeiro chá por infusão. Incrível!

http://www.marquesderiscal.com/

Entrando no confessionário:

Incansáveis, saímos de Marques de Riscal direto para outra bodega indicada pela dona do nosso hotel: bodega Valdelana. Fica a apenas cinco minutos da Marques de Riscal. Ao chegar lá, encontramos uma casa delicada e aparentemente simples. Na entrada, deparamos com uma loja de vinhos. Confesso que não estávamos dando muito crédito para o local inicialmente. Então, a guia nos chamou para o tour e abriu uma pequena porta que ficava dentro de um confessionário e começou a descer as escadas. Mais um tour subterrâneo absolutamente surpreendente! No subsolo, há um mini museu com os equipamentos usados antigamente na produção do vinho e uma pequena capela. Ao final da visita, compramos um vinho que trazia um potinho de ouro comestível.

A família Valdelana cultiva suas vinhas na comuna de Elciego desde o século XVI, disseminando na região sua paixão pela vinha e pelo vinho. A vinícola familiar cresceu de maneira significativa na década de 80, quando o proprietário Juan Jesús Valdelana ampliou o tamanho da propriedade adquirindo vinhas de produtores vizinhos.

 

Depois dessa viagem, ficou muito claro como esta região espanhola tem a vinicultura como essência de toda a sua história e como os produtores são apaixonados e comprometidos com o vinho. O vinho vai além da bebida, o vinho é uma cultura, é uma história, é uma paixão para este povo. Não é à toa que a marca Rioja é uma das mais prestigiadas entre as cinco zonas vinícolas mais famosas no mundo. Rioja nos impressionou e com certeza vai cativar todos que forem lá.

Vale a pena saber:

A primeira sangria engarrafada da Espanha não se originou no sul – como era de se esperar de uma região extremamente quente -, mas sim em Rioja. Na década de 1960, a bodega Rioja Santiago desenvolveu uma tecnologia para estabilizar e engarrafar o que até então fora um típico ponche caseiro espanhol, feito de vinho e suco de frutas cítricos. Com o nome de Sant’gria (sangria de Santiago), a nova bebida foi exibida numa feira de negócios em Nova York, onde despertou o interesse da empresa importadora Mounsier Henri Wines, uma subsidiária da Pepsi-Cola. Rebatizada como Yago Sant’gria, essa combinação de vinho e frutas cítricas foi um sucesso tão grande que a Pepsi comprou toda a bodega Rioja Santiago.

Às vezes, as garrafas de vinho Rioja vêm envoltas em uma treliça protetora de arame fino, chamada de red (rede) ou malla (malha). Esta prática data do século XIX, anterior ao estabelecimento do Consejo Regulador, quando as bodegas procuraram impedir que pessoas inescrupulosas reutilizassem garrafas de Rioja preenchidas com vinho inferior, rearrolhando-as e depois vendendo como Rioja de primeira qualidade. Hoje, a red é meramente decorativa.

Embora muitas vezes seja considerada como a Bordeaux da Espanha, muitos dos vinhos de Rioja têm uma delicadeza que lembra mais os da Borgonha.

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