A grande preocupação atual sobre o estado de saúde do planeta, envolve também o que está acontecendo nos vinhedos. É impressionante pensar que na Europa 3% dos terrenos agrícolas são ocupados por vinhedos, e para mante-los saudáveis e produtivos são consumidos 65% dos agrotóxicos vendidos anualmente.
Hoje em dia nem o cultivo orgânico das videiras garante a salubridade destas e do vinho, já foi comprovado que o uso de produtos derivados do cobre, um dos poucos autorizados no cultivo orgânico, são tóxicos e ao longo dos anos empobrece e contamina o subsolo.
Diante desse quadro pessimista, surge uma resposta interessante: a pesquisa científica aliada à genômica.
Após 15 anos de pesquisa e 500 micro vinificações foram apresentadas as dez primeiras videiras resistentes aos patógenos que mais requerem emprego de fungicidas. As novas videiras , obtidas através de cruzamentos e estudos genéticos, são o resultado do projeto que nasceu no Friuli Venezia Giulia, pela equipe de pesquisa da Universidade de Udine associada com o maior viveiro de videiras da Europa, o VCR de Rauscedo e o Instituto de Genômica Aplicada recebendo também a colaboração de diversos países como a França, Alemanha e Hungria que colaboraram na seleção das videiras naturalmente resistentes usadas para a pesquisa.
Estas super videiras reduzem drasticamente a necessidade de tratamentos, especialmente em zonas chuvosas e mais frias, frequentemente sujeitas ao oídio e míldio. Dificuldades climáticas que mesmo o nosso Rio Grande do Sul enfrenta. O beneficio é duplo: redução drástica dos custos dos tratamentos e um produto final mais saudável.
O futuro não para por aqui e vai ainda mais além, agora a nova meta da equipe do IGA é elaborar a resistência aos patógenos nas atuais videiras de vitis vinífera comumente utilizadas empregando a cisgenética, nova fronteira da biotecnologia que não implica em nenhuma recombinação da DNA com espécies alienígenas mas somente uma “importação” do gene sadio das variedades resistentes pertencentes à mesma espécie.
As videiras receberam um nome de inspiração grega que evoca a importância histórica dos gregos na antiga Etruria. Os vinhos obtidos através de microvinificação são os seguintes: Fleurtai, Soreli, Sauvignon Nepis, Sauvignon Kretos, Sauvignon Rytos, Cabernet Volos, Cabernet Eidos , Merlot Khorus, Merlot Khantus e Julius .
Tive a oportunidade de prova-los e dentre estes já se destacam três deles: Sauvignon Kretos com típicas notas verdes e bom teor salino, Merlot Khantus que se destaca pela sua fruta vermelha fresca e Cabernet Eidos com interessantes notas de cerejas negras.
Do ponto de vista sensorial, todos os vinhos são corretos, falta porém aquele toque de personalidade devido provavelmente à grande produtividade da planta que na atual configuração é capaz de produzir 5 kg de uva por pé. Estou muito confiante quanto ao futuro: quando as novas videiras encontrarão a sábia mão do homem, o terroir e o cultivo que visa a qualidade, esses híbridos poderão alcançar a excelência.
Alguns proprietários de vinícolas já aceitaram o desafio…uma gossip certificada revela que um chinês, dono de um Chateau em Bordeaux, já fez a sua encomenda!
Gostou da matéria? Deixe seu comentário abaixo, sua opinião é sempre muito importante!
Belas informações para os apreciadores de vinho, como eu mas… Com pouco conhecimento.Parabens pelo artigo
Ola’ Neuza, nao ha’ nada melhor do que aprender sempre coisas novas, o importante é manter vivo o interesse! Um abraço