No início do ano, a organização Vinexpo divulgou que a China tornara-se oficialmente o maior consumidor de vinhos tintos do mundo, deixando a França em segundo lugar. Essa notícia não representa tanta surpresa se lembrarmos que os chineses são a maior população do planeta e seu gosto por vinhos, especialmente os tintos, vem se desenvolvendo fortemente – uma tendência mundial. Interessante é a escolha pelo vinho tinto.
Além dos benefícios para a saúde, a cor vermelha tem uma importância simbólica na China: é associada à riqueza, poder e sorte, ao mesmo tempo que é a cor da bandeira da revolução. Quando se trata de todos os tipos de vinho, no entanto, a China ocupa o quinto lugar na lista de maiores consumidores e a França, claro, permanece em primeiro.
Euclides Penedo Borges, diretor da ABS Rio – Associação Brasileira de Sommeliers e um dos palestrantes no Encontro Internacional Vinho e Etc, passou recentemente duas semanas na China com um grupo de 26 representantes da ABS Rio para aprender sobre a produção de vinhos lá. O roteiro incluiu as cidades de Pequim, Tianjin, Hentai, Xian, Yinchuan e Shanghai e visitaram no total nove vinícolas.
A primeira visita foi ao Chateau Bolongbao, em Pequim, que recebeu uma menção honrosa na revista Decanter por causa de seu Cabernet Bolongbao 2013 e elabora brancos, tintos e rosados. Em seguida, o grupo visitou o Chateau SunGod, no interior da China, que recebeu o presidente Nixon em 1972 e o presidente Obama em 2009. Dentro de instalações modernas, são produzidos vinhos brancos, tintos e espumantes sob a marca Great Wall (Grande Muralha), que pertence a uma cooperativa estatal. Também a vinícola Helan Qingxue, que produz 50.000 garrafas por ano e foi responsável pela melhor garrafa da viagem, um Cabernet/ Merlot 2011 com doze meses de barrica francesa e americana.
Chateau Bolongbao, em Pequim.
Penedo Borges contou que a China é o sexto maior produtor de uvas e vinhos do mundo e estará entre os três maiores daqui a 10 anos, mas quando o assunto é qualidade, ainda deixa muito a desejar. A precificação dos vinhos é incompatível com o que existe no Ocidente e vinhos muito comuns, como os que são vendidos em supermercados, chegam a atingir US$ 100 a US$ 150 por garrafa.
Ele compartilhou também algumas curiosidades que podem gerar confusão nos turistas: em mandarim, não há palavra que traduza vinho, para isso há “putaojiú” que significa “álcool de uva”. Outra curiosidade é o mesmo nome de vinho servir para vários produtores. “Grande Muralha”, por exemplo, é uma marca de várias vinícolas. Se você pedir um “Cabernet Sauvignon Grande Muralha 2010”, você não definiu precisamente um vinho. Para pedir especificamente uma garrafa, é necessário dizer o nome do produtor, além de ser comum dar nome de uvas a uma marca de vinho. Então, você pode encontrar numa prateleira um Chardonnay (uva) Cabernet (marca). Estranho, não?
No geral, a fabricação de vinhos é para consumo interno. As poucas exportações estão associadas a vinícolas acompanhadas por estrangeiros como sócios ou enólogos. Além do vinho tinto, os chineses também bebem muita cerveja e as bebidas locais Moutai e Huang Jiu. Moutai é um licor chinês e Huang Jiu é o vinho amarelo chinês feito a base de cereais, principalmente arroz.
Conhecer a China, um lugar que poucos associam ao mundo do vinho, é uma experiência única, mas Euclides Penedo Borges afirma que não saiu muito surpreendido pelos vinhos chineses e que, numa comparação, seriam similares a vinhos brasileiros simples, de supermercado, salvo algumas exceções. No entanto, isso não representa uma decepção com a China. Um país tão grande, com produção e consumo de vinhos crescendo exponencialmente, com certeza tem potencial de trazer grandes surpresas para os enófilos no futuro.
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Por Priscila Minussi
Texto direto, bem escrito e abordagem descomplicada sobre vinhos. Parabéns!
A matéria é interessante , para um leigo como eu, pois nem sabia que a China produzia vinho, aja vinho para tanto chinês. Parabéns, continue nos mandando e informando essas preciosidades já proverbiais de tua parte.Agradecido, um abraço.
Maiores falsificadores de vinhos do planeta, e são industrias quimicas, não vinicolas!
Interessante; se os vinhos deles são semelhantes aos que existem em nossos supermercados, então o nosso “Sangue de Boi” não deve nada aos vinhos deles, que aliás, sempre achei um bom vinho.
Gostei muito desta matéria, nao sabia que a china teria tantos produtores de vinhos. Muito interessante.
Legal …queria conhecer a China , acho que ficara m a is fácil experimentar as igusrias com asjuda de bons vinhos !
Gostei obrugada !
Muito interessante conhecer o impacto de uma cultura milenar, como o vinho, numa civilização milenar, que como o exposto não foi atingida!