Piemonte significa “sopé do monte”. Praticamente todos os melhores vinhedos dessa região italiana estão localizados em áreas mais quentes, mais ao sul, em especial Langhe e Monferrato. E ali estão as principais cidades com capacidade vitivinícola: Alba, Asti e Alessandria.
As pequenas aldeias de Barolo e Barbaresco (que dão nome aos vinhos) distanciam-se em 19 km de Alba, uma para cada lado.
Alba é perfeita para quem aprecia comida e vinho. A cada outono, a cidade se transforma, pois é a época das famosas trufas brancas. A localidade fica lotada e abriga a famosa Feira Internacional das Trufas Brancas sob uma longa arcada medieval. O aroma e o sabor da trufa branca podem ser descritos como narcóticos. O ar fica inebriado com o perfume dela. Na entrada, você recebe uma taça com tickets que dão direito a percorrer a feira e tomar algumas taças de vinho.
Foi a nossa segunda vez em Alba, cidade que escolhemos de base, e onde decidimos alugar um apartamento. Algumas noites fazíamos nosso próprio jantar com massas frescas e trufas brancas compradas na cidade, com um vinho para harmonizar, claro. Bem mais barato que no restaurante – e mais romântico também!
Características das trufas brancas
Das centenas de trufas que podem ser encontradas em todo o mundo, a branca é a mais prestigiada. Cresce em lugares imprevisíveis, em geral ao pé ou debaixo de um carvalho, uma castanheira ou uma faia. Amadurece no final do outono. Sua colheita coincide com a das uvas do Piemonte. Não se sabe porque cresce em maior quantidade nesse local, e nem porque as trufas brancas do Piemonte são as superiores em sabor às da Toscana, Úmbria, Emilia-Romagna ou da antiga Iugoslávia.
Como não podem ser detectadas por seres humanos, utilizam-se de cães (ou às vezes porcos) treinados para farejá-las. O caçador de trufas deve ter o cuidado de afastar o animal no momento exato, antes que ele as coma. Em geral são caçadas à noite para que sua localização permaneça em segredo.
Harmonização das trufas brancas
São caras, porém basta uma pequena quantidade para transformar um prato numa refeição inesquecível. No Piemonte, as trufas brancas são raspadas cruas sobre massas caseiras, risotos, polentas, ovos. Geralmente Barolo e Barbaresco a acompanham muito bem. Ambos são produzidos obrigatoriamente pelas normas da Denominazione di Origine Controllata e Garantita (DOCG) a partir de 100% nebbiolo, uma das principais uvas tintas da região. Os vinhos feitos com a nebbiolo têm aromas específicos como violetas, couro, chocolate, ameixas secas e figos. Porém, o Barolo, plantado em locais mais íngremes e mais frios, em geral é mais robusto, austero e mais masculino. Já o Barbaresco geralmente é mais gracioso, mais feminino.
O Barbaresco é produzido em Barbaresco, Neive e Treiso. O Barolo é produzido em onze, dentre os mais importantes Barolo, La Morra, Castiglione Falletto, Monforte D’Alba e Serralunga D’Alba. O Barolo precisa envelhecer durante três anos entre barril e garrafa e o Barolo reserva, cinco anos. O Barbaresco precisa envelhecer um total de dois anos entre barril e garrafa e o Barbaresco reserva, quatro anos.
Além da nebbiolo, as principais uvas tintas do Piemonte são barbera, dolcetto, bonarda e vespolina. E as brancas são arneis, cortese e moscado.
Os principais vinhos da região
Barbaresco é uma vila muito charmosa que dá o nome a um dos vinhos mais famosos do Piemonte. A Igreja de São Donato, que foi construída em 1833 pelos habitantes de Barbaresco em forma de agradecimento às fartas colheitas de uvas que brotavam das colinas ao redor da cidade, abriga, desde 1986, a sede da Enoteca Regional do Barbaresco.
Falar em vinhos do Piemonte e não falar em Angelo Gaja é impossível. Foi o responsável por colocar Piemonte e Barbaresco no atlas mundial dos vinhos internacionais, sofisticados e de alta qualidade. Hoje ele produz, além de um excelente Barbaresco, um tradicional Barolo, os “langhe nebbiolo conteisa e sperss”, provenientes de vinhedos de La Morra, Cerequio e Serralunga. Para visitar sua vinícola em Barbaresco é preciso agendar com muita antecedência e desembolsar 300 euros por pessoa, que são revertidos para uma instituição filantrópica italiana.
Diante de tantas possibilidades, almoçamos no restaurante Antica Torre. Depois da refeição, nos sentamos no terraço da casa Boffa para mais uma taça de vinho. Só a simpatia do casal de idosos que comandam o lugar, Carlos e Laura Boffa, já vale a visita, mas ainda possui um visual de tirar o fôlego, apoiado às colinas com vista para o Vale do Rio Tanaro. A casa tem quatro quartos confortáveis, recentemente inaugurados, e oferece ainda aluguel de bicicletas para explorar o local. Carlos supervisiona a produção de vinho, enquanto Laura cuida da administração dos negócios e da empresa.
No final da tarde subimos a antiga torre de Barbaresco para degustar mais uma taça de vinho lá do alto, onde a vista consegue ser ainda mais estonteante, com música clássica de fundo.
Já a vila de Barolo também é um encanto e convida a caminhar por suas ruazinhas, onde vamos nos deparando com enotecas e lojas, delicatessens e padarias, um verdadeiro charme!
Orestaurante Bovio, localizado em La Morra, comuna de Barolo, tem gastronomia e atendimento impecável, além de uma vista linda. Sem dúvidas é parada obrigatória.
Em breve, no próximo post, vamos mostrar nosso roteiro por mais vinícolas da região do Piemonte! Não perca!