Era uma vez… Quantas histórias escutamos atentamente na nossa infância que começavam dessa forma? Muitas delas narravam fábulas ricas em uma atmosfera mística, encontros mágicos com seres extraordinários, e a nossa imaginação voava livre pelas tramas.
Enfim nos tornamos adultos e esquecemos da magia das fábulas. Até que em um belo dia, no reino encantado de Oslavia, um pequeno condado da cidade de Gorizia, no nordeste da Itália, descobre-se um tesouro muito cobiçado: uma uva chamada Ribolla Gialla.
Nessa região, os campesinos são reis e, liderados pelo iluminado Stanko Radikon, formaram uma associação (Associazione dei produttori di Ribolla di Oslavia) para defender esse tesouro. Stanko decidiu se mudar para o paraíso há alguns meses, mas deixou o cetro na mão de seu filho Sasha (foto), que continua a manter a paz e a união entre os vinhateiros que aderiram ao projeto.
Sim, é um projeto, ou melhor, uma missão. O avô de Sasha já tinha percebido que a Ribolla Gialla merecia um lugar no trono e aconselhou ao filho conceder o lugar mais privilegiado no vinhedo a essa casta. Assim, em 1995, iniciaram a elaborar um vinho branco especial, fora do comum, com uma longa maceração do mosto em contato com as cascas. Eis a mágica! Essa é a característica mais fascinadora da Ribolla Gialla, a transformação em vinhos que parecem ouro líquido!
>> Veja aqui como a região de Oslavia influencia no processo de fabricação do vinho nas palavras de Sasha Radiano!
Mas e quem são esses vinhateiros de Oslavia? São seis: Franco Sosol da Il Carpino, Rinaldo Fiegl da homônima vinícola, Nicolò Bensa de La Castellada, Silvan Primosic, Dario Princic e Sasha Radikon.
Durante o último Enjoy Collio Tour, esses produtores prepararam uma degustação especial, uma minivertical que causou sensação, confirmando a vocação desse vinho para a longa vida. Compartilho com prazer algumas notas de degustação com as relativas safras, para se ter uma ideia do que é a Ribolla Gialla de Oslavia:
As uvas são colhidas tardiamente e passam por uma maceração de 26 dias sobre as cascas. Somente leveduras indígenas são utilizadas.
2011: Mel, própolis e gengibre cristalizado, entra com profundidade e deixa a boca frutada com lembranças de caramelo.
2007 : Uma bela evolução com notas de conhaque e frutas secas, excelente mineralidade.
Proprietário de 10 hectares, ele aplica 35 dias de maceração em tinas abertas sem controle de temperatura.
2013: Notas frutadas adocicadas, figos caramelizados, feno cortado. Na boca, boa acidez e persistência.
2012: Abricó e melão maduros, caramelo e própolis. Na boca, boa adstringência que satisfaz.
Com seus 32 hectares, ele opta por 30 dias de maceração em cubas de aço, depois segue fermentação alcoólica e malolática em barricas. Nunca filtra os seus vinhos.
2015: Pêssegos brancos e mineral. Ótima boca, fresca e redonda. Deixa um final salino que satisfaz.
2012: Nariz complexo com especiarias, cúrcuma e própolis. Excelente sensação final no paladar.
La Castellada
Cuidam de 10 hectares e empregam 60 dias de maceração, onde ali mesmo ocorre a fermentação alcoólica e malolática. Em seguida trasfega para barricas com repouso de três anos sobre as leveduras finas.
2011: Alma de fruta, pêssegos em calda, deixa uma longa recordação no paladar. Excelente sensação salina e mineral.
2007: Apresenta-se imediatamente mineral e logo abre com notas de frutas secas e abricó cristalizado. Uma adstringência superior que enxuga o paladar e convida para mais um gole.
Franco Sossol possui 17 hectares, todos conduzidos a guyot. A maceração sobre cascas emprega 55 dias em tinas abertas com uso de leveduras indígenas. Em seguida repousa dois anos em grandes barris de carvalho e mais dois anos em garrafa. Sem filtração alguma, apenas uma ínfima dose de sulfitos na fase de engarrafamento.
2012: Notas de abricó, gengibre e conhaque. Destaca-se pela elegância e mineralidade.
2009 (somente 45 dias de maceração): Mel silvestre, ervas de montanha, absinto. Na boca, sensação de frutas cítricas com ótima adstringência.
Aplica uma maceração longa, a mais longa de todas, três meses e meio no total. A fermentação alcoólica ocorre em dornas, logo após trasfega e o vinho repousa por quatro anos em barris de 35 Hl, seguido por dois anos de repouso em garrafa. Não adiciona sulfitos.
2010: Própolis, mel, capim limão. Deliciosa sensação salina com final frutado e seco.
2004: Frutas secas, abricó cristalizado, cera de abelha. Excelente frescor e sensação mineral. Um vinho sempre jovem, muito vibrante.
Aposto que você ficou com vontade de experimentar uma Ribolla Gialla de Oslavia neste momento. Eu sim, a qualquer hora. Um vinho branco com estrutura e comportamento de um tinto. O que mais se pode desejar?
Que texto leve, gostoso de ler. Dá vontade de ir agora para o aeroporto e desembarcar em Gorizia.
Obrigada Pedro! A viagem vale mesmo a pena!
Muito obrigada, Pedro! 🙂