Matjaz Lemut é um daqueles personagens peculiares que gravitam no mundo dos vinhos.
Muito convicto de suas ideias, defende o óbvio que geralmente é ignorado: segundo ele, o conceito de terroir é pura tolice, o viticultor é em primeiro lugar um agricultor e todo agricultor tem de respeitar a vocação do lugar. Para ele, um terreno historicamente propício para capim não pode abrigar vinhedos. Matjaz acredita que para obter uma produção de qualidade é preciso respeitar a vocação histórica de uma região.
Foi assim que ele se instalou no Vale de Vipava, município do oeste da Eslovênia, amorosamente estampado como Vipava Valley em suas etiquetas.
Matjaz não tolera o modismo dos vinhos biológicos, considera isso somente uma manobra de marketing que só prejudica o ambiente com doses maciças de minerais (cobre), que, a longo termo, muda radicalmente a composição natural do solo. Assista aqui à entrevista que fiz com Matjaz Lemut. Ative as legendas em português!
Depois de formado na Faculdade de Biotécnica em Lubiana, deu início às suas andanças pelo mundo, passando primeiro pela Suíça. Após uma longa temporada na Califórnia, ele retornou à pátria e se estabeleceu fundando a Tilia Estate Winery há 20 anos. Hoje a propriedade possui oito hectares, onde se cultiva Chardonnay, Sauvignon, Pinot Gris e a sua menina dos olhos Pinot Noir.
No total são cerca 50 mil garrafas, mais da metade Pinot Gris, que lhe garantem seu ganha-pão. A Tilia Estate se deu o “apelido” de “House of Pinots.” Isso prova a atenção especial com a sua favorita, com o diferencial de ter “construído” um vinhedo com cinco clones diferentes do Pinot Noir: um proveniente do Oregon (USA), um do Trentino Alto Adige, o famoso n°777 francês, o R4 enfim o R20.
Apesar de ter provado todas suas criações, quis me concentrar e inspecionar se o apelido fazia jus ao nome. Experimentei os três Pinot Noir (que não decepcionaram):
- Pinot Noir 2015 VIPAVA VALLEY: etiqueta negra, feito de vinhedos ainda muito jovens, tem uma cor brilhante rubi com boa transparência. Muito exuberante no nariz com frutas vermelhas, especialmente marcada a nota de groselha, com nuances de relva molhada. Incrível frescor e taninos agradáveis, mas ainda ligeiramente selvagens. Uma boa promessa, aguardarei ansiosamente que essas vinhas sejam amansadas com o tempo.
- Pinot Noir 2015 ESTATE: etiqueta negra, aqui as vinhas já têm uma boa idade, e a diferença se sente logo no cálice. A cor sempre muito brilhante, rubi, porém mais denso. Já expressa personalidade no nariz com um prelúdio de evolução para notas mais complexas de frutas vermelhas em calda, cerejas negras e especiarias. Os taninos suaves e a acidez bem dosada fazem dessa versão um vinho de rápida interpretação e muito fácil de se amar.
- Pinot Noir 2014 Etiqueta Branca, A Seleção, A Reserva… Sabe-se lá como chamá-lo! Com 18 meses de envelhecimento em barricas de carvalho Louis Latour, nenhuma filtração, esse Pinot Noir se parece mesmo com o dono! Apesar da safra difícil, exibe um caráter surpreendente, intenso, aromas de todas as frutas vermelhas possíveis, notas balsâmicas e de pimenta preta. Ele entra na boca com potência e ao mesmo tempo elegância. Os taninos são robustos, mas indicam um longo caminho à frente juntamente com sua ótima acidez. Tem todos os elementos de um Pinot Noir inesquecível! Não é à toa que Jancis Robinson e Tom Stevenson deram uma paradinha por aqui.
Um personagem como Matjaz tinha de deixar sua marca em outro campo… Recentemente ele lançou uma aguardente grapa, com uma etiqueta muito curiosa e um nome ainda mais evocativo: BITCH.
O nome não é casual, outra história a ser contada…
Assista à entrevista que fiz com Matjaz Lemut. Ative as legendas em português!